No livro The Wonderful Wizard of Oz (L. Frank Baum), quando Dorothy e os amigos conseguem finalmente matar a Bruxa Má do Oeste e exigem ao feiticeiro que cumpra as suas promessas, descobrem que este é apenas um impostor. A sensação de desilusão que os invade assalta igualmente o leitor: afinal não há magia. Oz é capaz apenas de ilusões produzidas com maquinaria.
É claro que se o feiticeiro é charlatão, pelo caminho não faltam encantos: bruxas, fadas, um chapéu especial que permite dar ordens a macacos voadores, árvores ferozes, etc. E, no entanto, o surgimento do homem escondido atrás da cortina parece transformar tudo em faz-de-conta. Esta impressão é ainda mais forte no filme The Wizard of Oz (Victor Fleming), onde a revelação do impostor quase traz de volta à colorida Cidade Esmeralda os tons sépia do início do filme.
Disse Jorge Luís Borges sobre o Bartleby de Melville: "Es como si Melville hubiera escrito: Basta que sea irracional un sólo hombre para que otros lo sean y para que lo sea el universo". Algo de semelhante sucede com o feiticeiro de Oz: parece bastar a revelação de que este homem é um impostor para toda a magia desaparecer do mundo. E soa-nos assim ridícula a felicidade do espantalho quando Oz lhe enche a cabeça de farelos, como se fossem miolos; ou a do lenhador de latão, quando recebe, como coração, uma almofada de serradura. A sua alegria reveste-se do despropósito infantil de ver coisas com a imaginação e não com a razão. Porque agora que a cortina foi aberta e descobrimos o homem por detrás dela, já sabemos, adultos descrentes, que a magia não existe. O espantalho, o leão e o lenhador, pelo contrário, não o sabem, porque eles, no fim de contas, seguiram a famosa recomendação dada no filme pelo feiticeiro: "Pay no attention to that man behind the curtain!".
A humanidade de Oz faz-nos esquecer toda a magia que habita aquele universo. Mas ela continua lá. E cá também. Habituámo-nos tanto a ela que deixámos de a ver. Os milagres não têm por que acontecer somente em uma ocasião; mas é só perante esses – que têm lugar apenas uma vez – que falamos em milagres. É como se, aos nossos olhos, um milagre morresse de cada vez que se repete. Mas não é por o sol ter nascido hoje que o seu nascimento amanhã será menos espectacular. É o que nos explica Chesterton: "A tree grows fruit because it is a magic tree. Water runs downhill because it is bewitched. The sun shines because it is bewitched." (G. K. Chesterton, Orthodoxy). Se um fruto se desprender do ramo da árvore e fugir disparado para o céu ficaremos maravilhados. Mas porque ele tende a cair ao chão sempre que se desprende achamos que a queda não tem mistério. Como se essa queda fosse menos mágica por já a termos visto antes. A magia não mora na novidade e sim no oculto: eu sei que o fruto cai devido à gravidade. Mas "gravidade" é apenas o nome do feitiço. Se o fruto cai é por estar enfeitiçado.
Dizia-se no livro Peter and Wendy (J. M. Barrie) que uma fada morre de cada vez que alguém diz que não acredita em fadas. É um pouco assim que, de facto, a magia funciona. Oz é afinal um impostor, a almofada de serradura é um coração a fingir, como os farelos não são verdadeiros miolos. Mas a abóbora da Cinderela também não é um verdadeiro coche. E, no entanto, é este coche que a leva ao baile. O espantalho tem farelos no lugar de miolos, mas pensa muito bem, assim como o lenhador com uma almofada no lugar do coração tem sempre bons sentimentos. A magia dos contos de fadas torna verdadeiras as coisas de faz-de-conta. É esta a magia que desprezamos e que, por isso, deixamos de ver. Mas esquecemos que as coisas não são apenas mágicas por aquilo que não são, mas sobretudo por aquilo que são. Parece-nos disparatada a história da bruxa que transforma o príncipe num sapo. Mas aceitamos como banal que um ovo se transforme numa galinha.
Podemos rir-nos do ridículo do espantalho, do leão e do lenhador, por verem a magia onde ela não existe. Mas não há maior ridículo que o nosso: onde a magia existe, não a vemos.