Professeur Tournesol
As figuras de colecção são objectos de pequena ou média estatura, representando diversas personagens de cinema, banda desenhada, animação, televisão, etc.
São demasiado pequenas. Atraem-nos, mas nunca caberemos no seu mundo. A sua imobilidade, como a pequenez, dá-nos a ilusão de as dominarmos, de nos pertencerem. Mas permanecem inalcançáveis. São a melhor demonstração de que a propriedade é sempre promessa por cumprir. Só chegamos a ser donos do que está morto, do que habita apenas as nossas mãos, ou do que só existe no momento de o destruirmos ou consumirmos: instrumentos ou ferramentas, e brinquedos. Mas estas figuras querem existir fora da brincadeira. Escapam-nos entre os dedos e, assim, adquirem vida longe de nós, independente das nossas decisões. Pertencem-nos, porque moram nas nossas prateleiras. Mas limitam-se a exibir aí um mundo que fatalmente nos escapa, ao qual nunca pertenceremos.
São demasiado pequenas. Atraem-nos, mas nunca caberemos no seu mundo. A sua imobilidade, como a pequenez, dá-nos a ilusão de as dominarmos, de nos pertencerem. Mas permanecem inalcançáveis. São a melhor demonstração de que a propriedade é sempre promessa por cumprir. Só chegamos a ser donos do que está morto, do que habita apenas as nossas mãos, ou do que só existe no momento de o destruirmos ou consumirmos: instrumentos ou ferramentas, e brinquedos. Mas estas figuras querem existir fora da brincadeira. Escapam-nos entre os dedos e, assim, adquirem vida longe de nós, independente das nossas decisões. Pertencem-nos, porque moram nas nossas prateleiras. Mas limitam-se a exibir aí um mundo que fatalmente nos escapa, ao qual nunca pertenceremos.
No fim de contas, os bonecos ajudam-nos a
tomar consciência de quão pequenos são os nossos braços: por mais firme o
aperto quando os temos nas mãos, nunca os conseguiremos tocar. Por mais perto
que os tenhamos, morarão sempre longe. Por mais que os abracemos, nunca nos
pertencerão. Não precisam de fugir, já nos escaparam há muito.
Oferecem também deste modo a segurança do
regresso. Prometem vislumbres e deixam espreitar, mas não podemos perder-nos
onde não é possível cair. A figura traz paisagens, mas não permite aventuras.
Por isso, o regresso só opera em simulacro: quando tornamos, descobrimos que não
chegámos a partir. Podemos arrumar o mundo do boneco na prateleira, mas não
poderemos visitá-lo. Vendo bem, o que queremos arrumar é essa distância insuperável, esse lugar impossível que levamos para casa, mas aonde nunca chegaremos.
O mundo trazido pela figura vem com a
personagem representada. Esta aparece, porém, imóvel: a figura é a fixação de
quem só conhecíamos agindo. Surge agora presa em limites, e já não mexe, não
fala nem envelhece. Tal morte é a prova maior da vida que existia até a fixarmos. Resignação inevitável, já que se o objecto não pode agir por si, i. e., por sua
vontade, decidindo pela própria cabeça o que fazer, também não pode viver como
brinquedo, entregando o destino nas nossas mãos. Nenhum movimento é possível para ele. As figuras oferecem assim a
ideia de que podemos verdadeiramente conter a liberdade e cristalizar o poder de
decisão. Mas a possibilidade vive somente na perspectiva de se concretizar. A
tragédia da figura provém de que a liberdade só existe onde o movimento pode
surgir, onde podemos mudar coisas de lugar e tomar decisões. Ninguém é livre sem envelhecer. O nosso boneco não se deteriora, cansa ou fere, não desfalece nem se gasta; mas não porque resista, e sim porque nele não mora ninguém. Imobilizámo-lo e salvámo-lo da morte, mas para isso tirámos-lhe a vida.
O que fixámos então na figura de acção que já não age? Não qualquer vida que ele pudesse ter, mas só os nossos sonhos, o imaginário com que o animamos. E, vendo bem, não encontraremos melhor gaveta para as nossas fantasias. Porque o seu lugar é esse que as deixa ainda connosco, à distância de um esticar de braço, mas sempre demasiado longe, na ausência do que verdadeiramente nunca aqui esteve.
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